terça-feira, 27 de março de 2012

Geólogos apostam em erro humano para explicar acidente da Chevron

Foi culpa da mãe natureza ou erro humano? A Chevron tem 15 dias para explicar o que ocorreu a 3.329 metros de profundidade a partir do solo marinho do campo de Frade, na Bacia de Campos, no Norte Fluminense. O diagnóstico da Agência Nacional do Petróleo (ANP) reforça a tese de erro humano ao acusar a empresa de ter se equivocado no cálculo de revestimento do poço. O presidente da Chevron, George Buck, declarou à Polícia Federal (PF) que a "mãe natureza é muitas vezes imprevisível". Geólogos concordam que as incertezas na pesquisa geológica são muitas, mas preferem apostar na tese de erro humano. Caberá a Chevron derrubar a premissa científica.

Briga de versões sobre o mesmo acidente

Para o geólogo John Forman, ex-diretor da ANP, um dos maiores conhecedores de geologia do país, houve uma combinação de fatores que levou ao vazamento da Chevron: o gerenciamento do poço e a pressão natural do reservatório. O protocolo na indústria do petróleo para resolver o segundo problema é injetar água ou gás natural via poços injetores. Uma de suas hipóteses é de que a empresa teria usado uma pressão maior do que o recomendável:
- Poderia se estar fazendo uma injeção de água ou gás para aumentar a pressão para expulsar o petróleo da coluna do poço - avalia Forman.
Em depoimento ao Senado, na última semana, o assessor da diretoria da ANP Sílvio Jablonski foi taxativo ao acusar a empresa de erro.
- A situação poderia ter sido evitada se o revestimento do poço fosse mais extenso, por mais 300 a 400 metros. Mesmo que houvesse ruptura, esse óleo não teria condição de chegar ao oceano - explicou Jablonski. - A Chevron fez uma avaliação incorreta do projeto do poço.

Teste de sísmica não dá conta de todo o subsolo

O geólogo Leonardo Borghi, do Laboratório de Geologia Sedimentar da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), prefere não debruçar-se especificamente sobre o caso Chevron, dado que não estudou o assunto. Mas deixou claro que, a seu ver, estaria havendo uma condenação prévia, já que o laudo técnico ainda não ficou pronto.
- Se a pesquisa geológica fosse infalível, a indústria de petróleo não encontraria poços secos na fase de prospecção. Ao contrário. Todos os poços perfurados acabariam jorrando petróleo - disse Borghi.
Procurada, a Chevron não respondeu à afirmação feita por Jablonski. A tal imprevisibilidade da natureza alegada por Buck talvez venha do fato de que pequenas fissuras não são mesmo detectadas pelos testes de sísmica.
- A sísmica não fica procurando fissuras de dez metros. O foco é lá embaixo, no reservatório. A partir de agora esse tipo de estudo passa a ser importante. Até então os estudos sísmicos não focavam nessa questão. Mesmo os estudos que são feitos, não conseguem prever tudo, pois dependem da direção em que são conduzidos. Agora, estamos aprendendo com isso - admite Cleveland Maximino Jones, pesquisador do Instituto Nacional de Óleo e Gás.
Não bastasse a estrutura geológica do campo, o fundo marinho apresenta características diferentes, que podem variar numa distância de apenas alguns quilômetros.
- O fundo do mar não é estático. Há erosão, há correntes marinhas, por isso a pressão no poço é um cálculo tão rigoroso - destaca Henrnani Chaves, professor emérito da Faperj/Uerj.
O dia a dia do poço da Chevron está registrada no Boletim de Perfuração (BDP). É nesse documento, sigiloso, que está registrado o segredo que todos querem saber: a causa do vazamento.
O Globo -  Liana Melo

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