Sete meses depois de assumir a presidência da Vale, Murilo Ferreira decidiu vender todos os ativos da mineradora no setor de petróleo e gás para se concentrar no principal negócio da companhia, a mineração.
A decisão mostra uma mudança nos rumos que haviam sido traçados para a empresa pelo antecessor de Ferreira, Roger Agnelli.
No início da semana a empresa havia anunciado a decisão de vender supernavios, também adquiridos por Agnelli. A partir de agora, as embarcações serão afretadas.
Nos dois casos, Ferreira poupa a Vale de desembolsos expressivos de capital em um momento de escassez de crédito. Isso permite que o caixa da segunda maior mineradora do mundo fique disponível para eventuais compras de ativos de mineração.
A Folha apurou que a avaliação da direção da empresa era que ou se investia muito no setor de energia ou não valeria a pena continuar. Daí a decisão de sair.
O gasto da Vale em energia no ano passado representou 5,2% dos US$ 12,7 bilhões investidos. No terceiro trimestre deste ano caiu para 4,2% do total de US$ 4,5 bilhões do período.
A área de energia reúne, além de petróleo e gás, ativos de energia elétrica, como a participação na usina de Belo Monte, e biodiesel.
SOCIEDADE
A Vale é sócia minoritária em 18 blocos nas bacias de Santos (5), Espírito Santo (7), Pará-Maranhão (4) e Parnaíba (2). Em 2007, na nona rodada de licitações, investiu cerca de US$ 1 bilhão na compra de nove blocos.
Posteriormente, duplicou o portfólio em compras diretas com empresas privadas nas bacias de Santos e do Espírito Santo.
A Vale é sócia da Petrobras na maioria dos blocos. A estatal poderá ter o direito de preferência na venda, já que 90% dos contratos da petroleira incluem essa cláusula, segundo uma fonte.
A estratégia de Agnelli era garantir energia por meio do gás natural para as operações no Brasil, diante da perspectiva do crescente aumento do custo do insumo, além de se equiparar à sua maior rival, a anglo-australiana BHP, que lucra com os dois setores (mineração e petróleo).
De acordo com o analista Pedro Galdi, da SLW Corretora, a entrada da Vale no setor fazia todo o sentido na época, mas os custos mudaram e, principalmente, a gestão da companhia ganhou outro estilo com Ferreira.
"É uma mudança de estratégia radical. Ele está priorizando outros negócios e descartando coisas que na época eram viáveis, mas que na conjuntura atual não são tão importantes, como os barcos", disse Galdi.
Segundo a analista Mônica Araújo, da corretora Ativa, a decisão da Vale faz parte do contexto global de restrição de crédito.
"Faz todo o sentido para empresas que não tem o petróleo como 'core business' estarem vendo a oportunidade de se concentrar no seu próprio setor e se desfazer de ativos que não tenham relação com ela", afirmou.
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